quinta-feira, 20 de novembro de 2008

POEMAS ERÓTICOS - UMA INTRODUÇÃO SEM MEIOS TERMOS




EVOLUÇÃO CONJUGAL PARNASIANA


Lambe leve língua longa lustra
Sabor sexo sina sono sua
Sua sina sexo sabor sono
Sono lambe língua longa lustra.


(Renan de Andrade)

POEMAS ERÓTICOS 1


SENHORA, MINHA SENHORA


Senhora, minha senhora,
De corpo distante
Longe de mim

Que me conduz ao exercício
De um erotismo
Quase sem fim,

Seu corpo vasto,
Meu beijo casto
Percorre as curvas
Que nunca verei.

Sua formosura,
Minha excitação,
A forma dos seus seios
Preenchendo minhas mãos
Enquanto domino toda a volúpia


Do seu corpo lindo
E a sua culpa
De não ser eu aquele que toca
Sua libido e faz
Seu corpo explodir em gozo.


Mas me sacio
Em imaginar
Seu desvario.


(BELLMOND, David. Vida Vide Verso. Vitória: Editora do autor, 1999.)

POEMAS ERÓTICOS 2


PSEUDO-EROS


Amar o meu corpo
Antes de amar o seu
E dar de mim a mim
Antes de me entregar.


Descobrir meus limites,
Querer me aprisionar
Na minha própria posse,
Antevendo a paixão.



Sentir a rigidez
Da minha tênue mão
Na maciez do corpo
Do meu fantasma amante.



E assim me dando muito
Ao meu erótico anseio,
Descubra após o coito
Que não me dei bastante.


(BELLMOND, David. Vida Vide Verso. Vitória: Editora do autor, 1999.)

POEMAS ERÓTICOS 3


OLHAR DE ADEUS

Seus olhos estão para os meus
Assim como a estrada
Está para o adeus.

Seus olhos em segredo
Me procuram insistentes
Mas parecem ter medo.

Seus olhos de espera
Vivem me convidando
A inventar primaveras.

Seus olhos longe dos meus
Parecem ensaiar
Um movimento de adeus.

Seus olhos de quem chora
Estão sempre chegando
Como quem vai embora.

Meus olhos de quem sorri
Estão sempre pedindo
Pra não te ver partir.

Meus olhos estão para os seus
Assim como os homens
Estão para Deus.

(BELLMOND, David. Vida Vide Verso. Vitória: Editora do autor, 1999.)

POEMAS ERÓTICOS 4


SINCRONIA

Calo-me para te ouvir,
Falo para que me ouças
E me traduzas.
Imito o seu passo
No meu compasso.
Encaixo o meu braço
No seu abraço,
Sua sombra
Na minha imagem,
Visagem
No meu sentido.
Marchemos juntos
Na mesma ordem unida.
Cálice
Na minha tentação.
Corpo dominando corpo,
Mão alternando mão.


(BELLMOND, David. Vida Vide Verso. Vitória: Editora do autor, 1999.)


SALVE, SALVE, IRMÃOS NEGROS!


DISCURSO DE UM NEGRO EM 1888

Princesas, imperatrizes,
Meretrizes
É tudo igual.
Os negros já inventam o carnaval
Disfarçando a fome,
Enaltecendo o nome
De uma liberdade que ainda não veio
Da maneira esperada.
A abolição foi a espada
Que decepou o seio
Da mão negra que amamentava
Num canto da senzala.
O mulato, o negro esbranquiçado
Ainda mais se cala
Porque ser negro é ser rejeitado.
Ser negro é ser ex-escravo desempregado
Sem moradia e sem amor da nação
Construída pelo braço da escravidão.
E branco ainda vem dizer que Isabel é protetora
De negro. Santa redentora
Que não sabe o que é ter casa,
Ter refeição e escola como branco.
Ser negro é ser pássaro sem asa,
Sem gaiola e sem canto.


(David Bellmond /13.05.1988)