segunda-feira, 29 de setembro de 2008

AS VARIAÇÕES DE "NO MEIO DO CAMINHO"

1. TUDO COMEÇOU NO "INFERNO", de Dante Alighieri.

No meio do caminho desta vida
me vi perdido numa selva escura,
solitário, sem sol e sem saída.

(Dante Alighieri / Tradução de Augusto de Campos)



2. DEPOIS VEIO O BILAC COM:

NELL MEZZO DEL CAMIN

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...

(Olavo Bilac)


3. EM SEGUIDA VEIO DRUMMOND COM:

NO MEIO DO CAMINHO

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

(Carlos Drummond de Andrade)



4. DEPOIS VEIO A CRÍTICA INSATISFEITA:

Eu tropecei agora numa casca de banana.
Numa casca de banana!
Numa casca de banana eu tropecei agora,
Caí para trás desamparadamente,
E rasguei os fundilhos das calças!
Numa casca de banana eu tropecei agora.
Numa casca de banana!
Eu tropecei agora numa casca de banana!

(Gondin da Fonseca / Crítico revoltado com o sucesso do poema de Drummond)



5. Daí inúmeros poetas intertextualizaram a pedra. Até que veio minha inspiração (quase expiração) na crise renal que originou um poema.

NO MEIO DOS MEUS RINS

No meio dos meus rins tinha uma pedra
Tinham duas pedras dentro dos meus rins
Tinham três pedras
Dentro dos meus rins tinham várias pedras.

Nunca me esquecerei desse sofrimento
Na vida de minhas rotinas tão estressadas.
Nunca me esquecerei de que no meio dos meus rins
Tinham quatro pedras
Tinham cinco pedras dentro dos meus rins
Dentro dos meus rins tinham muitas pedras.

(BELLMOND, David. Elogio à perversidade. Vitória, Editora do autor, 2009.)

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