quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O LIVRO "VIDA VIDE VERSO" (PÁGINA 101 - ÚLTIMA)


DESTINO OU DESATINO?

Procuro uma palavra
Dentro da noite, exata,
Pedra angular ou adaga
Que resuma com perfeição
Tudo vivido até então.

Há vozes na noite escura
E não são sequer anúncio
Da palavra que procuro
Para resolver minha crise:
Deus, amor, felicidade
...Seja lá qual for a verdade.

Procuro no dicionário
Uma palavra singular
Que possa representar
Tudo o que quero dizer.
Busco em meu vocabulário
Uma palavra perfeita,
Sob medida, eleita,
Que me conceda poder
De expressar o que não tenho
Coragem de dizer com o cenho
Carregado de cansaço.
Palavra perdida no espaço.

Procuro uma palavra
Que desvende meu destino
Premeditado ou desatino
De poeta amante só
Das palavras que ao meu redor
Não me aceitam como sou
E lançam-me à busca também.
Se não encontro a palavra,
Ainda a procuro...
Amém.


(BELLMOND, David. VIDA VIDE VERSO. Editora do autor: Vitória-ES, 1999.)

sábado, 3 de outubro de 2009

MIGUEL ÂNGELO NASCEU











Miguel Ângelo nasceu em 03 de outubro de 2009.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

EDUCAÇÃO OU EDUCACÃO?

Já não sei se quero continuar bebendo dessa cachaça chamada educação. estou cansado. estou por demais decepcionado.

domingo, 19 de julho de 2009

AVISO AO NAVEGANTES!!!


Os mesmos textos podem ser conferidos em http://www.homerolinhares.blogspot.com/ !!!!

Visite-me e deixe seu comentário!

ADEUS À SENHORITA KRÊURIS


UM PEDAÇO DO SEU SER

Não quero mais sentir saudades de você.
O que eu quero mesmo é viver
ao seu lado os dias que me restam
nesta vida que já não presta
se não for pra lhe amar.

Não quero mais lhe telefonar
e planejar momentos passageiros
e ficar o dia inteiro
só sonhando com o que vem.
Senhorita, seu amor me convém

Como convém a um barco pelas ondas velejar.
Eu sou o barco e você é o mar.
Não quero sentir mais essa fome
Que sinto de gritar seu nome
E beber do seu olhar.

Acho que preciso de você
No meu dia-a-dia a todo instante.
Não quero mais ser o seu amante,
Eu quero ser doravante
Um pedaço do seu ser.

(Homero de Linhares /07.06.09)

Entre a pérola e o poeta!


O POETA E A PÉROLA

Quando eu tinha 10 anos e estava na quinta série, uma professora ordenou que eu lesse “A pérola”, de John Steinbeck. Eu era de família muito pobre e minha mãe disse que, se eu quisesse ler aquele livro, teria que vender picolé na rua para comprá-lo porque a gente não tinha nem comida em casa direito. Arrumei uma caixa de picolé velha emprestada e juntei o necessário para comprar o livro. Acontece que, quando eu fui comprar o livro na antiga Livraria Âncora, de Vitória, vi um livro que me chamou a atenção pela capa. Era um tal de Hermann Hesse. Comprei o livro errado. A professora brigou muito comigo e disse que, se eu não lesse a pérola, faria recuperação. Voltei às ruas para vender picolé e dessa vez comprei o livro de Steinbeck, mas li primeiro o de Hesse. Li um conto que me impressionou demais: O poeta. Era a história de um poeta chinês (Han Fook) que passou a sua vida na busca da perfeição do uso da palavra. Fiz o resumo de “A pérola”, mas pedi à professor que lesse o que eu havia escrito sobre “O poeta”. Ela se emocionou e disse que adotaria aquele livro nos anos posteriores.

Desde então eu não consegui mais parar de escrever. De trabalhos mal-remunerados, eu consegui estudar o que mais me encantava que era a busca da palavra. Da quinta série ao mestrado em Literatura foi uma longa caminhada, mas durante todo trajeto eu escrevi coisas que espantaram a mim mesmo. Se eu não fosse tão orgulhoso e defensor da liberdade de se escrever aquilo que se quer, muitos livros meus estariam sendo vendidos e lidos por aí. O problema é que eu nunca consegui aceitar que podassem minha escrita ou me dissessem o que eu precisava escrever. Por isso rejeitei convite da Maçonaria para divulgação de um livro meu, assim como não aceitei que pessoas que conheci, e que viraram prefeito, deputado, vereador, publicassem livros meus. A poesia para o poeta, a narrativa para o narrador, é um pleonasmo, mas é ainda hoje a procura da palavra que me move como havia dito Drummond, conforme descobri mais tarde.

Participei de duas coletâneas de poetas capixabas, lancei meu primeiro livro com recursos próprios em 1999. Deixei de participar de várias coletâneas por não admirar a qualidade do que era publicado, apesar dos nomes relevantes da sociedade capixaba. Benilson Pereira me disse certa vez que influência e acesso ao poder são mais importantes que talento. Nunca concordei com ele. Acho que, por isso, me limito a escrever. Tenho mais de 10 livros prontos: crônica, narrativas, críticas, poesia, análises, minha dissertação sobre Drummond, que me serviu de moeda no mestrado. Mas não consigo ver a escrita como moeda de troca e sim como terapia. Uma terapia que vicia e é paradoxalmente uma doença.

(David Bellmond / 19 de julho de 2009)





sábado, 4 de julho de 2009

DIFAMAÇÕES E CALÚNIAS NÃO PODEM SER REPARADAS POR INDENIZAÇÃO ALGUMA


A MÍDIA MATOU MICHAEL JACKSON

Li um artigo da autoria de Paulo Nassar (paulo_nassar@terra.com.br) no site do Terra, e faço dele as minhas palavras. Quem matou Michael Jackson foi a mídia. Desde que surgiu a polêmica sobre pedofilia que jornal, rádio, TV e internet não pararam de crucificá-lo. E na esteira das más notícias e difamações, a população acredita em tudo que ouve, lê sem precisar ver ou sem precisar da prova dos nove. Somaram-se às acusações as tantas transformações físicas por que passou o astro pop e já foi o bastante para que a voz do povo (é a voz de Deus?) desse o veredicto sobre as mentiras espalhadas nos meios de comunicação. Alguns dias depois da morte (também explorada 24 horas por dia, 7 dias por semana), aparece o suposto réu da acusação de pedofilia e afirma que foi tudo mentira. De que adianta agora, morto e quase sepultado o rei da música pop negra, saber que ele era ou não pedófilo? Antes mesmo do bondoso rapaz desmentir as acusações que mataram Michael aparecer em cena, a mídia (talvez com peso de consciência ou talvez mesmo porque não era possível deixar de explorar ao máximo aquele que representou a transformação da Black Music) se redime e anuncia a cada instante uma novidade sobre o “monstro-aberração-pedófilo” que conquistou o mundo com suas metonímias (roupas, sapatos, passos de danças e voz).

Você, por acaso nunca ouviu notícia de alguém que teve sua vida destruída por uma falsa acusação? No ano passado, uma aluna minha de 13 anos alegou que se encontrava comigo fora do horário de aula e obteve o crédito de pedagogas, diretora e alguns companheiros de trabalho. O mais incrível é que a aluna e a sua família não deram prosseguimento à acusação de “pedofilia consentida por ela” (isso na versão da pueril aluna) e continuou a ser minha aluna. Eu desejei que a escola desse continuidade aos procedimentos corretos nesses casos porque (afirmei isso com todas as palavras às pedagogas, à diretora e àqueles que duvidaram da minha defesa), se eu tivesse uma filha de 13 anos que tivesse sido seduzida por um homem de mais de 30 anos, eu não o processaria, eu preferiria matá-lo com minhas próprias mãos. Perdoem-me a ira contida na minha declaração. É que, diante de tanta injustiça e falta de representantes sérios da justiça, polícia ou coisa parecida, às vezes dá vontade de agir com difamadores da mesma forma como agem os personagens de histórias em quadrinhos.

Mas como a vida é real (não somos Wolverines, Justiceiros, Batmans ou Peter Pans), acabamos por engolir as injustiças desse mundo cão. No entanto acredito que, ainda hoje, se houver alguma piada sobre pedofilia, alguma pedagoga que tenha estado presente naquele triste episódio se lembrará de mim. Tornou-se evidente que a aluna inventara aquela história de encontro fora da sala de aula para se vingar de mim deposi de ser expulsa da sala de aula por não querer agir como pessoa cumpridora dos seus deveres num ambiente de educação (aliás esse é o comportamento mais comum em sala de aula atualmente e que, infelizmente, conta com a conivência de pedagogos mal instruídos e leitores distorcidos de Paulo Freire).



DESEJO E REPARAÇÃO

Vi no cinema recentemente um filme que retrata uma triste história de difamação que culminou com a destruição de duas pessoas que se amavam. Desejo e reparação, baseado no livro homônimo de Ian McEwan, conta a história de uma menina enciumada com o namoro de sua irmã mais velha e que vê na calúnia uma possibilidade de se vingar daquele a quem ela amava, apesar da diferença de idade entre ambos. A acusação feita pela garotinha dá ao jovem futuro médico a condenação aos campos de batalha numa guerra que o devora. Ao mesmo tempo em que condena também a sua amada, irmã mais velha da menina acusadora, à uma morte precoce e longe do homem a quem ela amava.

Aqui, longe da ficção, essas coisas também acontecem afinal a vida imita a arte e vice-versa. Recentemente, no Terminal de Carapina, uma funcionária do sistema Transcol foi assassinada e o primeiro acusado do caso foi um marido revoltado com o caso homossexual que sua esposa mantinha com a mulher assassinada. O caso foi explorado pelos jornais por vários dias. Veja parte de uma das manchetes na época:

“Um homem de 27 anos está sendo procurado pela polícia como o principal suspeito de ter mandado executar a cobradora Claudinéia Seruti, de 29 anos, no último domingo na Serra. Robson de Oliveira Couto, que já tem passagens pela polícia por formação de quadrilha e tentativa de homicídio, é marido de uma mulher com quem, segundo as investigações, a cobradora teria tido ou manteria um caso. Em agosto de 2008, após descobrir o relacionamento extraconjugal homossexual da mulher, Robson teria agredido Claudinéia, que prestou queixa à polícia. "Robson, com ciúmes, agrediu ela. Na audiência, ele tentou um acordo e Claudinéia não topou. Depois, ofereceu dinheiro para ela retirar o processo. Ela também não aceitou", contou o secretário Estadual de Segurança, Rodney Rocha Miranda. A amante de Claudinéia, que é testemunha nas investigações e por isso terá o nome mantido em sigilo, confirmou à polícia que mantinha um relacionamento com a vítima e que o marido teria a agredido e ameaçado por conta disso.”
(http://www.folhavitoria.com.br/site/?target=noticia&cid=0&ch=08d0d1f65e7a4e7856bab37efa6550dc&nid=108629)


Dois meses depois, a polícia descobre que o assassinato ocorrera por outro motivo diferente daquele notificado pela mídia: não havia nada de caso homossexual que provocasse a morte da pobre cobradora execrada pela opinião pública (apesar de morta) e nem era o rapaz cuja foto aparecera em todos os jornais o criminoso. E agora? Quem poderá reparar esses enganos? Não se pode consertar uma acusação leviana feita contra qualquer que seja o cidadão. Indenizações não limpam a mácula deixada na biografia do acusado. Assim foi com esse jovem e assim sempre será. Além disso, não há sequer uma mínima retratação por parte da impressa, que na época publicou a foto do suposto marido traído e da cobradora assassinada, morta por ser homossexual. Confira o texto publicado na internet:

“Uma surpresa ao final do inquérito policial sobre o assassinato da cobradora Claudinéia Seruti, 29 anos, em abril, no Terminal Rodoviário de Carapina, na Serra. A linha de investigação de que a morte seria um crime de mando, por um suposto relacionamento amoroso, foi abandonada. A elucidação contou com duas testemunhas oculares e imagens do circuito do terminal. O acusado de matar Claudinéia seria Bruno Jesus Oliveira, 22 anos. Segundo testemunhas, no dia do crime, o acusado se aproximou da entrada do terminal e disse que pularia a roleta. A cobradora falou que ele não pularia, e os dois discutiram. Após o bate-boca, Bruno pagou a passagem e entrou no terminal. Cerca de 40 segundos depois, o suspeito voltou a cabine onde estava Claudinéia e efetuou o disparo. O crime foi registrado pelas câmeras de monitoramento do terminal. Nas imagens, o acusado aparece entrando na cabine. Depois de atirar contra a vítima, o suspeito saiu correndo com a arma na mão. Bruno teria voltado ao local, enquanto Claudinéia era socorrida. Segundo o titular da Delegacia de Crimes Contra a Vida da Serra, Josafá da Silva, o acusado está preso desde o dia 27 de abril. Ele foi detido por policiais chefiados pelo delegado Danilo Bahiense, em Maringá, na Serra.
Bruno possui passagens pela polícia por roubos e furtos. Segundo o delegado Josafá da Silva, o caso foi encerrado somente depois que a hipótese de crime passional foi descartada. "Investigamos todas as possibilidades. O que nos levou ao Bruno foram duas testemunhas oculares", afirmou. Uma delas, além de assistir ao crime, gravou um vídeo no celular, em que o assassino aparece no local do crime enquanto a cobradora era socorrida.

12 de abril

A trocadora Claudinéia Seruti, 29 anos, foi assassinada com um tiro no coração dentro da guarita da roleta do Terminal de Carapina, na Serra. O crime aconteceu por volta das 23h30, a poucos minutos do fim do expediente de trabalho. O suspeito da morte fugiu levando alguns trocados do caixa de Claudinéia. O assassinato trouxe revolta entre funcionários do terminal e motoristas de ônibus, que chegaram a paralisar as atividades durante horas para protestar. Durante a investigação, a polícia prendeu Robson de Oliveira Couto, 27, suspeito de mandar assassinar a cobradora. Ele seria casado com uma amante de Claudinéia. Robson foi preso pois havia um mandado de prisão em aberto por uma tentativa de assassinato atribuído a ele.
(http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2009/06/103547-reviravolta+no+caso+da+cobradora+morta+em+terminal.html)


VIDA LONGA À MÍDIA, À DEMOCRACIA, À JUSTIÇA HUMANA E SEUS REPRESENTANTES.

(David Belllmond / 04 de julho de 2009)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

EIS A POESIA (6)

ESPERANDO POR MIM

Acho que você não percebeu
Que o meu sorriso era sincero.
Sou tão cínico às vezes,
O tempo todo estou tentando me defender.

Diga o que disserem,
O mal do século é a solidão.
Cada um de nós imerso
em sua própria arrogância
Esperando por um pouco de atenção.

Hoje não estava nada bem,
mas a tempestade me distrai.
Gosto dos pingos de chuva,
dos relâmpagos e dos trovões
E é de noite que tudo faz sentido.
No silêncio eu não ouço meus gritos.

(Renato Russo)

EIS A POESIA (7)

MINHA DESGRAÇA

Minha desgraça, não, não é ser poeta,
Nem na terra de amor não ter um eco,
E meu anjo de Deus, o meu planeta
Tratar-me como trata-se um boneco.

Não é andar de cotovelos rotos,
Ter duro como pedra o travesseiro
Eu sei..O mundo é um grande lodaçal perdido
Cujo sol (quem mo dera) é o dinheiro...

Minha desgraça, ó cândida donzela
O que faz que o meu peito assim blasfema,
É ter para escrever todo um poema,
E não ter um vintém para uma vela.


(Álvares de Azevedo)

EIS A POESIA (8)

VERSOS NEGROS

Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão...

O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.

(...)
(Castro Alves)

EIS A POESIA (9)

AULA DE PORTUGUÊS

A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender.

A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas da minha ignorância.

Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me.

Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.

O português são dois; o outro, mistério.

(Carlos Drummond de Andrade)

EIS AQUI A POESIA (10)

ILUSÕES DA VIDA

Quem passou pela vida em brancas nuvens
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu;
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.

(Francisco Otaviano / 1825-1889)

sábado, 27 de junho de 2009

MICHAEL JACKSON: UMA ABERRAÇÃO?


NÓS SOMOS TODOS ABERRAÇÕES NÃO ASSUMIDAS


“No futuro, todos terão 15 segundos de fama”

- Andy Warhol


As pessoas pintam o cabelo, fazem lipo, usam lentes de contato coloridas, furam o corpo para usar brincos, pearcings, gastam dinheiro de todas as formas para modificar a aparência.

Realmente, Michael Jackson era um aberração, diferente de todos nós, que somos meros mortais e nós contentamos com o que somos sem restrição. Difícil é explicar isso para a estupidez de muitos internautas que não conseguem sequer fazer uso da língua materna e se acham no direito de fazer brincadeiras, escárnios com aquele que mudou a cara da música Black no mundo. Outra coisa relevante: esses pobres internautas jamais sequer terão os cinco segundos de fama citados por Andy Warhol. Se aquele menino negro complexado, bonito sem se reconhecer bonito foi uma aberração por mudar exageradamente a sua aparência, todos nós, que não aceitamos algo em nós ou gastamos dinheiro para tornar nossas aparência mais agradável, também somos aberrações. Em menor escala que a de Michael Jackson, mas somos aberrações. Em tributo ao Pop star Michael Jackson, eu compus uma canção-poema e fiz uma versão, ambas tocáveis em violão. Seguem abaixo os dois, além de duas músicas dele cifradas para violão.

(David Bellmond / 26 de junho de 2009)

EU É QUE NÃO MUDO NADA EM MIM

CONFORMADO

D
Estou contente com o meu cabelo duro
Com a minha pele escura
Am
Sem meus dentes pra comer..
D
Não vou pintar o meu cabelo nem furar
Minha orelha para piercing
Nem brinco nem tatuagem
Am
Tenho mais o que fazer...

A
Minha barriga tá do jeito que eu gosto
Não reclamo de imposto
Em
E o governo está bom...
A
Sou brasileiro, sou um cara conformado
Se as coisas dão errado
Em
A culpa é do Sadam...

D
O Michael Jackson aquele nego metido
Querer ter embranquecido
Am
Ter cortado o nariz...
D
Eu não entendo se o mundo é perfeito
Aceitar-se desse jeito
Am
É que me faz ser feliz...

A
Nem abada, nem camisa de roqueiro
Nem cachaça nem maconha
Em
Vai mudar o que eu sou...
A
Bolsa de grife ou camisa de etiqueta
Todo mundo é careta
Em
E acha que se rebelou.

(David Bellmond / 26 de junho de 2009)

CAIA FORA / BEAT IT


Beat It

Cai Fora

E D
Eles disseram: "nunca mais volte aqui",
E D
"Não quero ver sua cara, melhor desaparecer",
E D
O fogo está nos olhos E as palavras são reais,
E D
caia fora, caia fora,
E D
Melhor você correr, melhor fazer o que puder,
E D
Não queira ver sangue, Não seja um machão,
C D
Você quer ser brigão, então faça o que puder,
E D
caia fora, mas você é muito mau.


REFRÃO:
E D
caia fora, cai fora,
E D
Não queira ser um derrotado,
E D
Rindo e brigando, Mostrando que é forte,
E D
E se não importa quem está errado.
E D
Só caia fora, caia fora,
E D
caia fora, caia fora,

E D
Eles estão lá fora pra receber você,
E D
Não seja uma criança, Seja homem,
C D
Melhor ser um covarde e continuar vivo.
E D
Caia fora, caia fora!
E D
Não precisa dizer do seu susto e do seu medo,
E D
Brincar com sua vida não te faz um X-men
C D
Eles chutam e batem e atiram pra valer
E D
Caia fora! Eles vão matar você!

(Refrão)

(David Belllmond / versão de "Beat it")

MICHAEL JACKSON: BEAT IT!

Beat It

E5 D5
1. They told him don't you ever come around here,
E5 D5
don't wanna see your face, you better disappear.
C5 D5
The fire's in their eyes and their words are really clear,
E5 D5
so beat it, just beat it.
E5 D5
2. You better run, you better do what you can,
E5 D5
don't wanna see no blood, don't be a macho man.
C5 D5
You wanna be tough, better do what you can,
E5 D5
so beat it, but you wanna be bad.
E5 D5
Just beat it, beat it, beat it, beat it,
E5 D5
no one wants to be defeated.
E5 D5
Showin' how funky and strong is your fight,
E5 D5
it doesn't matter who's wrong or right,
E5 D5
just beat it, beat it, just beat it, beat it
E5 D5
Just beat it, beat it, just beat it, beat it.

E5 D5
3. They're out to get you, better leave while you can,
E5 D5
don't wanna be a boy, you wanna be a man.
C5 D5
You wanna stay alive, better do what you can,
E5 D5
So beat it, just beat it.
E5 D5
4. You have to show them that you're really not scared,
E5 D5
you're playin' with your life, this ain't no truth or dare
C5 D5
They'll kick you, then they beat you, then they'll tell you it's fair.
E5 D5
Just beat it, but you wanna be bad.

E5 D5
Just beat it, beat it, beat it, beat it,
E5 D5
no one wants to be defeated.
E5 D5
Showin' how funky and strong is your fight,
E5 D5
it doesn't matter who's wrong or right.

(Michael Jackson)

MICHAEL JACKSON: The way you make me feel

The Way You Make Me Feel

[Intro]
F# E
F# E
F# E
F# E

[Verse 1]
F# E F# E
Hey pretty baby with the high heels on
F# E F# E
You give me fever like Ive never, ever known
F# E F# E
Youre just a product of loveliness
F# E F#
I like the groove of your walk, your talk, your dress

[Pre Chorus]
B A
I feel your fever
B A
From miles around
B A B C#
Ill pick you up in my car and well paint the town
F# E F# E
Just kiss me baby and tell me twice
F# E F# E
That youre the one for me

[Chorus]
(keep repeating F# E)
The way you make me feel
You really turn me on
You knock me off of my feet
My lonely days are gone

[Verse 2]
F# E F# E
I like the feelin you're givin me
F# E F# E
Just hold me baby and im in ecstasy
F# E F# E
Oh Ill be workin from nine to five
F# E F#
To buy you things to keep you by my side

[Pre Chorus]
B A B A
I never felt so in love before
B A B C#
Just promise baby, youll love me forevermore
F# E F# E
I swear Im keepin you satisfied
F# E F# E
cause youre the one for me

[Chorus]
(repeat F# E)
The way you make me feel
You really turn me on
You knock me off of my feet
My lonely days are gone

(Michael Jackson)

AMIGO É...?

NOVA CANÇÃO DA AMÉRICA

Amigo?
Amigo é o carai...
Amigo não fura o zói...
Amigo não se corrói
Quando o outro se dá bem.
Amigo não faz desdém
E nem finge tolerância.
Amigo não tem inveja,
Raiva ou desconfiança...
Amigo não diz aquilo
Que não queria ouvir
Amigo não se aproveita
Nem diz coisas pra ferir...

Amigo é o escambau...
Amigo não mete o pau
Quando outro se afasta,
Nem revela os defeitos
Repleto de preconceitos.

Amigo, uma pinóia...
Quem tem alma de jibóia
E fome de urubu
Não pode ter amizade.
Quem chora igual crocodilo,
E espreita igual leão
Não consegue ser amigo.
Nem precisa ter irmão.

Amigo, se me dissessem
Que você não vale nada,
Eu sequer escutaria
O furor de almas penadas.

Amigo, eu colocaria
Por você as mãos no fogo.
E o que faria por mim:
Poria minha mãe no fogo?

Que merda de amigo é você
Que não sabe se proteger
Nem protege quem lhe ama?
Amigo, quem lhe engana
Não sou eu. É você mesmo
Que crê ingênuo, coitado,
Mentindo ao mundo a esmo,
Que o meu peito difamado
Com o tempo não saberia
Da sua falsa alegria
Quando me vê e me diz
O quanto o deixo feliz
Por nossa longa amizade.
Nem amigos, nem compadres
Dá mesmo pra gente ser.
Porque eu não sinto prazer
De ferir meu semelhante
E quem faz isso me enoja.
Amigo, a sua corja
Não é a mesma da minha.
E é melhor viver solitário
Que entre ervas daninhas.

(David Bellmond / 24.06.09))

O POP STAR NEGRO




MICHAEL JACKSON – O MITO




Não existiu na música pop uma revolução tão constante e visível. Desde que a mídia projetou o fenômeno Michael Jackson, a música pop nunca mais foi a mesma. Nos anos 80, a minha geração ou as gerações anteriores não tinham ainda o hábito da apreciação ao vídeo clipe. Foi com o aparecimento daquele astro orgulhosamente negro que passamos a cultivar, ou mesmo cultuar, o artista, a música, a imagem via FM TV. Havia, no Brasil, até então, apenas um programa de televisão que correspondia ao nosso formato de endeusamento da música jovem. Depois veio a MTV e as similares. Tudo parecia ser uma reprodução das visagens do menino negro que se transformara num astro de primeira grandeza. A mutação já começara a acontecer na substituição daquele cabelo Black Power dos anos 70 para os cabelos encaracolados do jovem afro-americano que encantava meninas e obrigava mancebos do mundo inteiro a imitá-lo: jaqueta preta, calças apertadas, sapatilhas com meias brancas e a dança com movimentos quebrados nos salões de festas.
No meu bairro havia um rapaz que era tão apaixonado pelo mito MJ ao ponto de se vestir, andar e usar cabelo como o dançarino-cantor americano. Não demorou muito para que outras pessoas no bairro fizessem o mesmo. Eu sentia inveja desses adolescentes porque me faltava habilidade para imitar a dança frenética e erótica do momento. O ano era 1982, portanto a Ditadura Militar ainda inspirava pais e primogênitos a uma imposição cultural brasileira. Lá em casa não era diferente. Meu irmão mais velho me proibiu de ouvir as músicas Beat It, Billie Jean e Thriller (hits que mais tocavam nas rádios AM e FM de Oiapoque a Xuri). Meu irmão militar dizia que aquilo era música de doido; que ouviu falar sobre jovens que dançavam com a cabeça apoiada no chão; que e polícia prendera um grupo de rapazes vestidos como Michael Jackson e eram todos bandidos.
Eu era batista tradicional na época e tinha medo de assumir que o mito também me impressionava. Ganhei uma jaqueta preta. Dois amigos meus também tinham jaquetas pretas. Formávamos a turma dos Feras: eu, Paulo, Pedro, Quino. Uma amizade que duraria até os dias atuais se Paulo não tivesse ido para os Estados Unidos, Quino não tivesse virado polícia e Pedro não tivesse se suicidado. A amizade não acabou, mas nos afastamos muito depois que o rock nacional modificou a nossa forma de rebeldia. Certa vez, íamos a um culto na igreja batista e a polícia nos parou por causa das nossas vestes iguais ao do astro pop MJ. Roni também estava conosco e foi o que mais temeu que a polícia nos prendesse por causa daquela imitação barata de cultura norte-americana. Roni foi repreendido por mim e eu o tranqüilizei, dizendo que não tínhamos cometido nenhum crime. O policial mais carrancudo fez questão de me dar uma porrada nas costas e mandar que eu me calasse. A agressividade não foi suficiente para mudar meus costumes.
Hoje sei que Michael Jackson, de alguma forma, contribuiu para que eu elevasse a minha estima de negro que não se aceitava como tal. Ainda não consegui aceitar a perda como se ele fosse uma pessoa bem próxima, quase real, quase parente. Falem bem ou falem mal , todos falam do nosso pop star negro. Resta-me agora ouvir as canções que ficaram e que marcaram a minha adolescência como se ele não morresse nunca.

(David Belllmond / 25 de junho de 2009)

terça-feira, 16 de junho de 2009

DIÁLOGO NO MSN

DIÁLOGO EM EMESENÊS – A LINGUAGEM DO MSN

Boa noite, amor!
Pq vc demorou?
Estou aki esperando
Já naum sei desde quando.

Estava com saudade.
Vc eh pura maldade
De naum me permitir
Estar aí contigo.

Pq temer o perigo?
Amor, preciso dormir!
Por favor, naum vá embora.
Por favor, naum vá agora.

Me deixa ao menos dizer
Que eu sonho com você
De noite e acordado.
Amor, está ocupado?
Tc com outra pessoa?

Boa noite, amor!
Preciso por
Minha filha pra dormir.
Perdoa se a internet cair
Ou o MSN falhar...

KKKKK
Rir pra não chora.
Rê rê rê rê rê
Ganhar eh perder.

(David Bellmond / 17.06.09)

MUSIC FOR YOU 1

Meu Ébano

É você é um negão de tirar o chapéu
Não posso dar mole senão você ... creu
Me ganha na manha e babau,
Leva meu coração.

É, você é um Ébano lábios de mel
Um príncipe negro, feito a pincel
É só melanina cheirando a paixão.
É, será que eu caí na sua rede ainda não sei
Sei não, mas tô achando que já dancei
Na tentação da sua cor.

Pois é, me pego toda hora querendo te ver
Olhando pras estrelas pensando em você
Negão eu tô com medo que isso seja amor.
Moleque levado, sabor de pecado, menino danado
Fiquei balançada, confesso, quase perco a fala
Com seu jeito de me cortejar
Que nem mestre-sala.

Meu preto retinto, malandro distinto
Será que é instinto.
Mas quando te vejo enfeito meu beijo, retoco o baton
A sensualidade da raça é um dom
É você, meu ébano é tudo de bom!!!


(ALCIONE)

MUSIC FOR YOU 2

Não me deixe só

Não me deixe só
Que eu tenho medo do escuro,
Tenho medo do inseguro,
Dos fantasmas da minha voz.

Não me deixe só,
Tenho desejos maiores,
Eu quero beijos intermináveis,
Até que os olhos mudem de cor...

Não me deixe só,
Que eu saio na capoeira,
Sou perigosa sou macumbeira,
Eu sou de paz eu sou do bem, mas...

Fique mais,
Que eu gostei de ter você,
Não vou mais querer ninguém,
Agora que sei quem me faz bem.

Não me deixe só,
Que meu destino é raro,
Eu não preciso que seja caro
Quero gosto sincero de amor.

Fique mais,
Que eu gostei de ter você,
Não vou mais querer ninguém,
Agora que sei quem me faz bem.

Não me deixe só,
Que meu destino é raro,
Eu não preciso que seja caro
Quero gosto sincero de amor.

(VANESSA DA MATA)

MUSIC FOR YOU 3

Paixão

Amo tua voz e tua cor
E teu jeito de fazer amor
Revirando os ohos e o tapete
Suspirando em falsete
Coisas que eu nem sei contar
Ser feliz é tudo o que se quer
Ah! Esse maldito fechecler
De repente a gente rasga a roupa e uma febre muito louca
Faz o corpo arrepiar
Depois do terceiro ou quarto copo tudo o que vier eu topo
Tudo o que vier vem bem
Quando bebo perco o juízo não me responsabilizo
Nem por mim nem por ninguém
Não quero ficar na tua vida
Como uma paixão mal resolvida
Essas que a gente tem ciúme
E se encharca de perfume
Faz que tenta se matar
Vou ficar até o fim do dia
Decorando tua geografia
E essa aventura em carne e osso
Deixa marcas no pescoço
Faz a gente levitar
Tens um não sei que de paraíso
E o corpo mais preciso
Que o mais lindo dos mortais
Tens uma beleza infinita
E a boca mais bonita
Que a minha já tocou.


(KLEITON E KLEDIR)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O AMOR: IRMÃO DA LOUCURA




O AMOR: IRMÃO DA LOUCURA

Obs. : Desde épocas remotas que o amor tem feito suas vítimas. Para iniciar esse passeio pelas trevas densas do amor (que às vezes parece nos conduzir à luz), o primeiro palestrante é o mestre Drummond, depois Fernando Pessoa, seguimos com Bellmond e encontramos Homero no meio do caminho. Atente à sequência dos poemas e previna-se desse mal de amar, que tantas almas humanas tem conduzido à morte. Amor e morte - binômio inseparável.



CONFRONTO

Bateu Amor à porta da Loucura.
"Deixa-me entrar - pediu - sou teu irmão.
Só tu me limparás da lama escura
a que me conduziu minha paixão."

A Loucura desdenha recebê-lo,
sabendo quanto Amor vive de engano,
mas estarrece de surpresa ao vê-lo,
de humano que era, assim tão inumano.

E exclama: "Entra correndo, o pouso é teu.
Mais que ninguém mereces habitar
minha casa infernal, feita de breu,

enquanto me retiro, sem destino,
pois não sei de mais triste desatino
que este mal sem perdão, o mal de amar."

(Carlos Drummond de Andrade)



O AMOR QUANDO SE REVELA...


O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar
Sabe bem olha p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Para saber que estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

(Fernando Pessoa)

1. AMORES QUE ENLOUQUECEM





(Homero de Linhares / 12.06.09)

6. AMORES TRÁGICOS II

POEMA EXTRAÍDO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL

Eram dois vizinhos que mal se olhavam.
Antes da amizade tornaram-se amantes.
Cotidianamente, sorrateiramente,
Amavam-se cegos, sempre e bastante.

Ela, recalcada; ele, possessivo.
Ela era casada; ele, professor.
O marido, homem calado e decente,
Suspeitoso dos perigos do amor,

Pediu à esposa em ímpar descrição,
Aquela Capitu entregue aos cafezais,
Que Virgília fosse com cara de Amélia,
Messalina seja sem se dar demais.

Depois se diria à boca miúda
Que, além do amante e do zeloso esposo,
Deveria haver um terceiro afeto
A presentear-lhe anéis e mais gozo.

Foi o que disseram testemunhas tantas
Aos policiais quando nefasto Eros
Armou-se de pedras, faca e combustível,
Cansado talvez de ser simples arqueiro.

Implorando um basta àquela vida dupla,
Ela quis findar a traição permitida.
E ele não aceitou ser o descartado.
Se alguém vai ceder, que seja o marido.

Ela, com a mesma dissimulação
Com que convencia o esposo permissivo,
Fez o amante crer que faria o outro
Dar fim ao matrimônio estável e lascivo.

Brindaram com risos e vinho barato
À paixão que agora era amor eterno.
Ele desejoso de levá-la ao céu,
Ela desejando conduzi-lo ao inferno.

E entregou-se toda pela última vez,
Após deu-lhe vinho com lexotan
E ele caiu frágil num canto da sala
E ela gargalhava, fútil cortesã.

Abriu-lhe o crânio com uma pedra aguda
E furou-lhe o peito que há pouco amara,
Alargou-lhe a boca com lâmina cega,
Incendiou o amado sem usar metáforas.

Arrastou o corpo para a noite escura
E a cada gemido do defunto amante
Ela com a faca já ensangüentada
Talhava-lhe o pescoço vociferante:

Eu não te avisei que o desejo acabou?
Por que não me ouviu sem usar artimanha?
Já que você não quer mais sair de mim
Eu extirpei você das minhas entranhas.

E o corpo sepultou numa cova rasa
Feita às pressas naquele cafezal
E ela confessou fria à polícia
Que apenas fora um rito de amor banal.

(David Bellmond / 26.09.08)

7. AMORES TRÁGICOS III



PEDRINHO BLUES

Numa manhã de chuva
Eu me suicidei
E matei meu amor
Não matei, mas matei.
Se o amor não morreu
Quem morreu fomos nós
E morremos juntinhos.
Felicidade atroz.

Meus amigos não tinham
Uma palavra de paz.
Ela me abandonou,
Não me amava mais.
Eu já não suportava
Tamanha solidão
E me vi tresloucado
Com uma arma na mão.

Matei meu abandono,
Matei quem eu amava.
Nossos corpos velados,
Quanta gente chorava.

Mães, irmãos e amigos,
Parentes desesperados
Chorando sobre os caixões
De amantes desenganados.

Eu sempre fui sereno
E de riso absorto.
Eis-me agora gritando,
Ouçam a voz de um morto:
Se o amor mata a gente
Ou matamos o amor,
Melhor é não amar
E viver só em dor.

(David Bellmond / 07.09.99)


Obs.: Este poema foi escrito há dez, alguns meses após um grande amigo meu provocar uma tragédia (quase no sentido literário) em nome do ciúme que ele acreditava ser amor. Pedro tirou a vida da mulher que ele amava e depois se matou na praia de Camburi, em Vitória - ES, no dia 08 de junho de 1999, alguns dias antes do dia dos namorados. Perdi duas pessoas muito amadas no mesmo dia. Foram-se os dois e ficou o poema.

PRESENTE DE ANIVERSÁRIO



VALSA PARA GELMA

Quero,
Nesse dia de graça,
Sob o som de uma valsa
Te trazer de presente
Perfumes e sementes
Das flores mais coloridas.

Quero,
Nesse dia de vida,
Te cantar as canções
Que falam da caridade,
Do amor, da bondade
Que há nos corações
Dos Que amam a Jesus.

Quero,
Nesse dia de luz,
Garimpar diamantes
E enfeitar tais brilhantes
Com a luz do teu olhar.

Mas as flores com o tempo
Se desbotam e o perfume
Se evapora no ar;
As valsas e as canções
São esquecidas nos salões
Depois de se dançar.
E as pedras de valor?
Eu não tenho sequer
Um anel de camelô.

Quero,
Nesse dia sem par,
Te prestar homenagens
Com o meu coração.
Se aceitar de bom grado,
Trago em minha bagagem
Toda minha amizade
E meu amor de irmão.

Feliz seria
A cidade
Se pudesse
Nesse dia
Desejar felicidade
À menina dos seus olhos
Que surge em sua poesia,
E diante de tanta beldade
Nem enxergo os horrores
E as muitas atrocidades
Que enfeiam sua cidade,
Mas se hoje toda cidade
Te pudesse levar flores
Feliz seria
E diria
Para sempre feliz idade
E em dobro felicidade.

(David Bellmond / 12. 06. 09)

terça-feira, 9 de junho de 2009

POEMAS PARA QUEM AMA (1)


Obs.: Os poemas que seguem abaixo abordam o mais nobre tema na poesia desde que o homem aprendeu a lidar com a arte da palavra (didaticamente falando: a literatura). Óbvio que há outros autores ilustres que deveriam figurar aqui (como Camões e o "Amor é fogo que arde sem se ver", Castro alves com a sua "Teresa", Vinícius com seus sonetos, entre outros tantos), todavia dei preferência a poesias mais oportunas, a começar pelo poeta baiano "Boca do Inferno" e o "Pica-flor" que tanto sucesso faz desde 1600. Espero que as poesias lhe agradem. Caso contrário, escreva seus próprios poemas.


PICA-FLOR

Se Pica-Flor me chamais,
Pica-Flor aceito ser,
Mas resta agora saber,
Se no nome que me dais,
Metei a flor que guardais
No passarinho melhor!
Se me dais este favor,
Sendo só de mim o Pica,
E o mais vosso, claro fica,
Que fico então Pica-Flor.

(Gregório de Matos e Guerra)


Em tempo: Esses mesmos poemas podem ser lidos no blog de Homero Linhares: http://www.homerolinhares.blogspot.com/

POEMAS PARA QUEM AMA (6)




Obs.: A imagem acima veio no encarte da minha fatura da Riachuelo. Achei interessante reproduzi-la junto a um tema tão recorrente na poesia: O amor (ainda que de forma tão despudorada). O mestre Drummond mais uma vez mostra seu brilhantismo na arte da lira e do erotismo. Apesar de tanto atrevimento, os versos são perfeitos com decassílabos italianos num soneto bem acabado. Rimas, sons e imagens de um grande poeta.



NÃO QUERO SER O ÚLTIMO A COMER-TE

Não quero ser o último a comer-te.
Se em tempo não ousei, agora é tarde.
Nem sopra a flama antiga nem beber-te
aplacaria sede que não arde

em minha boca seca de querer-te,
de desejar-te tanto e sem alarde,
fome que não sofria padecer-te
assim pasto de tantos, e eu covarde

a esperar que limpasses toda a gala
que por teu corpo e alma ainda resvala,
e chegasses, intata, renascida,

para travar comigo a luta extrema
que fizesse de toda a nossa vida
um chamejante, universal poema.


(Carlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

13 DE MAIO? KKK (ISSO NÃO)


PRETO DESQUALIFICADO?


Há 120 anos ou mais,
No início da República,
Dizia-se que o preto não
Tinha qualificação
Pra trabalhar na lavoura
Como o ítalo-alemão
Que fugira da Europa
Vindo em busca de pão.

Parece que o preto era
Incapaz de aprender
A lidar com as ferramentas
Que eram suas mãos e pés
Pra riqueza e bel-prazer
Do Brasil colonial
A tratar como animal
Meus tataravôs sofridos
Escravos pretos, bandidos
Comprados, dados, vendidos
Em feiras de bugigangas.

E empregavam o branco
E humilhavam o preto
Que deixou de ser escravo
E se amontoou em guetos.

Favela era senzala,
Quilombo virou favela
E o Brasil que era somente
Brancos e escravos pretos
Passou a ser a mistura
De brancos e pretos pobres
Sem me esquecer dos índios
Que eram mortos ou trazidos
A laço ao catolicismo.

Pois bem: agora mudou
A nossa mentalidade.
Somos um povo estudado
E soberanos em igualdade.
Senzala virou empresa
E favela virou cidade.
Já não somos mais os pretos
Incapazes de aprender
A arte de ler e escrever.

Agora nós somos negros
Multiplicando o orgulho
Dessa nossa melanina
Que transborda, que esbalda
A criatividade divina
Em fazer homens diversos
Com inúmeros tons de pele
Que não cabem nesses versos.

Mesmo assim o tal do IPEA
Insiste em chamar de pretos
Minha raça vencedora
Que resistiu aos maus-tratos
De Izabel, a redentora
E sua corja de falsos.
Será que só minha raça
Precisa obter a graça
De mudar suas origens?

Mudem esse pensamento
De Dom Pedro, Darwin, Hitler,
E aceitem que não existe
Raça pura ou perfeita
E que há 120 anos
Que o meu povo é livre.
Leiam o meu direito
De ser tratado com respeito
Porque vocês me agridem
Quando me chamam de preto.


Se há algo de que me orgulho
É de ser feito de luta
E não um filho da injusta
Nação que incrimina
Por ser descendente afro,
Tataraneto de escravos.
Preto é seu preconceito.
Eu sou e sempre fui negro.

(David Bellmond / 13 de maio de 2009)

PRINCESA REDENTORA?????




DISCURSO DE UM NEGRO EM 1888

Princesas, imperatrizes,
Meretrizes
É tudo igual.
Os negros já inventam o carnaval
Disfarçando a fome,
Enaltecendo o nome
De uma liberdade que ainda não veio
Da maneira esperada.
A abolição foi a espada
Que decepou o seio
Da mão negra que amamentava
Num canto da senzala.
O mulato, o negro esbranquiçado
Ainda mais se cala
Porque ser negro é ser rejeitado.
Ser negro é ser ex-escravo desempregado
Sem moradia e sem amor da nação
Construída pelo braço da escravidão.
E branco ainda vem dizer que Isabel é protetora
De negro. Santa redentora
Que não sabe o que é ter casa,
Ter refeição e escola como branco.
Ser negro é ser pássaro sem asa,
Sem gaiola e sem canto.

(David Bellmond /13.05.1988)

QUE PALHAÇADA!!!!!




13 DE MAIO – QUE PALHAÇADA!


Abolição da escravatura. Completaram-se 121 anos. Pouco? Realmente. Muito pouco para um povo que viveu debaixo da escuridão, não a escuridão da pele, mas a escuridão da noite, a escuridão do dia, a escuridão da igreja, a escuridão do poder, a escuridão do branco incapaz de raciocinar. A escuridão de um escravagismo que obrigou meus bisavós a trabalharem de graça por mais de 300 anos.
13 de maio. Não. Não temos nada a comemorar. A Lei Áurea assinada pela digna Princesa Isabel foi uma palhaçada. Deram liberdade, mas não deram emprego, casa, condições de vida mínima que fosse. Ainda hoje vivemos debaixo do estigma da escravidão e somos olhados por não poucos que enxergam a escravidão extinta mais que nós. Ainda existem pessoas que conseguem ver na cor da minha pele o emblema dos negros africanos trazidos da África à força. Tristemente ainda há quem me trate como se tratasse um escravo da época. Os escravos da época eram considerados inferiores. A igreja Católica os considerava sem alma, por isso não podiam se converter ao cristianismo. Por isso que negro que se preze não deveria ser católico.
Vergonha da minha raça? Que nada. Eu me orgulho, e muito, dos meus ancestrais porque eles mostraram a força física da sobrevivência e a coragem de lutar. Devemos muito aos abolicionistas que lutaram contra a opressão. Devemos agradecer a escritores que, como Castro Alves, não se fingiram de cegos diante de tamanha covardia. Acredita que existem pessoas que me tratam indiferente? Como se ainda fosse superiores a mim devido à cor da pele.
Pobres coitados! Desconhecem que a Constituição me concedeu direitos iguais aos brancos estúpidos que não estudaram História e nem leram a Bíblia. Mais triste ainda é ver policiais negros tratando negro como os bisavós deles eram tratados nas senzalas. Capitães do mato. Sim! Os policiais negros que oprimem negros por serem negros são capitães do mato a mando de uma falsa democracia que ainda não dá oportunidades iguais, mesmo contrariando a Lei Máxima desse país construído pelo braço forte do negro.
Grande abraço aos meus irmãos negros e brancos que conseguiram se libertar da visão opressora da época da Casa Grande. Façamos silêncio em nome daqueles que abraçaram e abraçam essa causa: Racismo é coisa de branco ignorante e negro desinformado que se considera “preto”. Preto é o solado do meu sapato. Preto é o cabo do revólver do soldado incauto que desconhece minha luta. Preto é o futuro de quem ainda não conseguiu se olhar no espelho e ver a face do nosso Brasil. Eu sou é negro.

(Homero Linhares - 13 de maio de 2009)

“Preto é quem leva uma pedrada e não a devolve. Se você tem coragem de devolver a pedrada, então você é negro.”
(Paul Sartre)

2009 NA TELEVISÃO

O QUE É NOVO PINTA NA TELINHA

Acabou recentemente uma nova edição do BBB. Não vi, não quero ver a próxima e tenho pena de quem vê. Não que eu seja anti-social (com hífen ou sem hífen?). É que é sempre a mesma coisa. Quem viu a primeira edição viu todas. Tem sempre um participante negro para dizer que Roberto Marinho aprovava a democracia racial. Aliás, a Globo é boa nisso: toda novela global apresenta alguns atores negros para não dar margem aos comentários anti-racistas dos reacionários como eu. Engraçado (será?) é que não consigo ver a cara da população brasileira nas histórias tendenciosas da telinha. O BBB tem também sempre umas mulheres boazudas que serão capas da Playboy, da Sexy ou de outras revistas de nu artístico. O que seria do imenso público masculino sem as loiras, as ruivas, as siliconadas ou sem silicone, que posam mostrando seus pelos (com ou sem acento?) mais íntimos para nosso delírio e fantasia? Tem sempre uma ou outra beldade de talento mediano que entrará para a programação televisiva ou virará repórter de talento duvidoso. Tem sempre um pseudo-intelectual (com hífen ou sem hífen?), o que instigará algumas pessoas a dizerem que sou radical quando afirmo que o significado de BBB é Big Burro Brasil, Big Bundas Brasil, Big Boss Brasil, Big Bêbado Brasil.
Aliás, com a Globo é sempre assim: apesar de estarmos em 2009, não há quem inove na telinha. A GLOBO representa a GLOBalização da moda, da mídia, do tédio. As novelas são sempre parecidas umas com as outras. A nova novela mostra os mesmos cenários, os mesmos atores fazendo as mesmas Caras e Bocas no Paraíso do Caminho das índias. Até os nomes das novelas são pouco criativos. Minha mãe se confunde, achando que está vendo a nova versão de Cabocla ainda, ou será Sinhá Moça ou mesmo outra novela rural? As comédias vão bem até que o autor perde o rumo do que está contando e repete as fórmulas de novelas fracassadas passadas. Os filmes da Sessão da Tarde são lá da época em que o cinema ainda era quase mudo. Nos programas de fim de semana, somente um ou outro foge da mediocridade.
Eu rio mesmo é quando anunciam a TV Digital com a afirmação de que essa é uma nova era da televisão. KKKK, como dizem no MSN. Ou como diria aquele personagem de Rubem Fonseca: Só rindo. Pra que TV Digital se a Globo e suas imitadoras não oferecem nada de novo aos caros telespectadores?

(Homero Linhares / 12.04.09)

OUTROS AUTORES

UM BOM POEMA

um bom poema
leva anos cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

(Paulo Leminski)

OUTROS AUTORES

MINHA ALMA CHOVE

Minha alma chove
frio e tristinho
não te comove
este versinho?

(Carlos Drummond de Andrade)

OUTROS AUTORES

APENAS O QUE SINTO

Apenas o que sinto,
Apenas o que falo,
Apenas o que faço,
Apenas me desfaço.

(Rafaela de Andrade)



Obs.: A Rafaela foi minha aluna no ensino médio lá na escola "João Crisóstomo Beleza". A poeta tem talento de sobra.

POLÍTICOS E CELULARES


CELULAR DE PARLAMENTAR


Segundo o jornal “A Tribuna”, A Assembléia Legislativa do Espírito Santo gastou R$ 355. 179,44 com a telefonia móvel em 2008. Esse irrisório valor corresponde apenas às despesas com os celulares dos 31 deputados capixabas nesse ano. A matéria publicada no jornal na sexta-feira santa, 10/04/09, informa ainda que alguns dos nossos ilustres representantes (como os Srs. Luiz Carlos Moreira do PMDB, Robson Vaillant do DEM, e as Sras. Luzia Toledo do PTB e Janete de Sá do PMN) conseguiram consumir mais de R$ 20.000,00 com ligações via celular. Dizer que isso é uma vergonha não paga não reduz em nada a nossa imensa decepção com essa classe divinizada que ri com muito sarcasmo dos brasileiros comuns que trabalham exaustivamente para bancar os luxos dos parlamentares. Como pode se verificar abaixo, a coisa fica ainda pior na ascendência dos cargos eletivos, pois:Reportagem de Adriano Ceolin, publicada na edição de hoje da Folha (a íntegra está disponível apenas para assinantes do jornal e do UOL), informa que o Senado gastou R$ 8,6 milhões com pagamento de contas de telefones celulares no ano passado. Em média, o gasto por parlamentar foi de ao menos R$ 6.126 mensais. (http://www.hojenoticias.com.br/brasil/senadores-gastam-media-de-r-6000-mensais-em-celular)O exemplo mais negativo foi dado por um senador do PT:Reportagem do jornal "Estado de S. Paulo" afirma que a conta do telefone celular do Senado que o senador Tião Viana (PT-AC) emprestou à filha em viagem de férias ao México foi de R$ 14.758,07. Procurado pela Folha Online, Viana se negou a confirmar o valor e disse apenas que esperava do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), as providências relativas à quebra de seu sigilo telefônico. (http://www.hojenoticias.com.br/brasil/senado-abre-sindicancia-para-apurar-vazamento-do-sigilo-telefonico-de-tiao-viana)O senador Petista, Tião Viana, decidiu não revelar o valor da conta do celular, mas admitiu que errou ao emprestar o telefone do Senado para a filha utilizar durante a viagem. "Eu assumi a inteira responsabilidade, foi uma falha minha. O país muda quando qualquer pessoa que, ao errar, assume o seu erro", afirmou. Isso deveria vir escrito em toda Lei criada pelos responsáveis e filosóficos parlamentares brasileiros, de senador a vereador.Enquanto milhares de capixabas se esforçam para sobreviver à míngua com míseros R$ 400,00 por mês, alguns deputados capixabas gastam uma média de R$ 2000,00 por mês com celular. Enquanto milhões de brasileiros se esforçam para sobreviver à míngua com míseros R$ 400,00 por mês, um senador gasta, no mínimo, R$ 6126,00 por mês com celular.Esse é o Brasil da desigualdade que começa de cima pra baixo, do presidente ao vereador. E olha que existem brasileiros com pós-graduação ganhando menos de R$ 1.000,00 por mês. É preciso dizer mais alguma coisa para alimentar a nossa ira com os homens e mulheres honrados que fazem a Lei nesse país?


(Homero Linhares / 10.04.09)

O INFERNO DA SALA DE AULA




O INFERNO DE DANTE E A SALA DE AULA


Dante, o poeta italiano, disse que, quando chegou à porta do inferno, encontrou uma placa dizendo: Deixem as esperanças do lado de fora aqueles que entram. A sala de aula não é um inferno totalmente, mas deveria estar escrito lá, logo na entrada: Deixem as desesperanças do lado de fora aqueles que entram. Ou então: deixem a preguiça, o descaso, a falta de sonhos em casa ou na praça. O que tenho visto em sala de aula, como em anos anteriores, adolescentes e jovens que vão à escola porque não têm nada de mais interessante para fazer.Desse forma, a aula, que deveria ser algo mais descontraído ou algo prazeroso, torna-se um espaço de autoritarismo, de cumprimento de regras, de estresse para o professor e de lazer para muitos alunos desinteressados. Faz-se tudo em sala de aula, menos aprender e discutir idéias que possam propiciar o desenvolvimento do raciocínio humano. As reuniões de professores é um momento em que pedagogos discutem meios de punição e controle do comportamento do professor ante o desinteresse dos educandos e jamais de compartilhamento de experiências boas que possam funcionar em nossa escola.Será que é tão difícil assim tornar a escola um ambiente de aprendizagem e de aproveitamento cultural e intelectual para nossos adolescentes e jovens? Para se conseguir dar aula, é preciso que o professor mostre primeiro seu dom de domador para depois colocar em prática a lição do dia. A pedagoga da minha escola me diz eu os meus alunos precisam aprender a ler e escrever, uma vez que mais de 10 anos na escola não foram suficientes para que eles aprendessem. E eles querem aprender alguma coisa? Sala de aula é lugar de se brincar, gracejar com os colegas e te ofendê-los, mas aprender é algo doloroso para nossos alunos.Paulo Freire, Içami Tiba e outros entendidos do assunto são homens do milênio passado. A educação que eles pregam não é mais viável em nossos dias. Na época de Paulo Freire existia a opressão praticada pelos militares e pelos nossos pais. Ninguém abria a boca durante a lição com medo de tudo. Por isso a existência da “Pedagogia do Oprimido”. Hoje a nossa realidade é outra. Aquele que diz que a baixa qualidade do ensino é culpa da incapacidade do professor deveria assumir minhas turmas ao menos por uma semana para saber o que é purgatório aqui na terra. Principalmente as turmas compostas por adolescentes. Ser teórico é fácil, difícil é ser educador na prática.


(Homero Linhares / 08 de abril de 2009)

TRÂNSITO: ABUSO DE PODER




LEI ARBITRÁRIA


Não existe lei mais arbitrária que a lei de trânsito. Existem leis duras, existem leis intransigentes e existem leis desnecessárias, mas a mais arbitrária de todas e a lei de trânsito. Legisladores, guardas de trânsito, polícia rodoviária não sabem disso, mas eles são mais temidos que traficantes, terroristas, seqüestradores, estelionatários e outras pestes da nossa sociedade.Conheço casos de seqüestros em que, após a negociação, os criminosos abaixaram a guarda. O terrorismo e o tráfico de drogas também me amedrontam, mas eu temo mesmo é quando vejo uma viatura da polícia rodoviária ou da guarda de trânsito, ou um guarda de trânsito com seu bloco nefasto de contribuição para os cofres do município, do Estado ou da União. Não deveria ser assim. Eu deveria sentir-me seguro diante da presença ostensiva dos pupilos pretorianos, entretanto o que sinto é receio de que eles inventem uma nova descoberta do código para rebocarem meu veículo e me dêem uma daquelas guias de contribuição ao erário público.É de se compreender que a crise trouxe aos nossos dias uma carência muito grande de recursos para se investir na educação, na saúde e, principalmente, na segurança. Portanto, já que IPVA, IPTU, IR, ICMS, ISS e outros membros da mesma família não são suficientes para nos atormentar e meter a mão nosso bolso, é preciso que se multipliquem os policiais e guardas com canetas na mão, os radares, as câmeras e outros meios de punir de maneira exponencial os motoristas brasileiros.Antes de mais nada, uma lei arbitrária é uma lei que não permite defesa, que não permite que você manifeste sua possível inocência. Alguém lhe acusa de alguma coisa e você não tem sequer o direito de se manifestar. A lei alega que existe o direito de recurso quando você é acusado por alguma infração. Todavia quem julga o seu recurso o faz de forma tão secreta que ninguém garante que houve lisura e justiça no julgamento de sua causa. Está certo que os crimes contra a receita no nosso país são punidos com muita rigorosidade, mas nem a ação do leão amedronta tanto quanto os guardiões do nosso código de trânsito.Nada mais justo. Afinal a violência no trânsito é de assustar. A imperícia e a imprudência do número enorme de motoristas brasileiros abarrotam as estatísticas dos jornais. O que considero arbitrário é o contribuinte (isso é o que nós somos aos olhos dos nossos administradores e víboras disfarçados de justiceiros, digo, de juízes, advogados, alferes) ser surpreendido muitas vezes que chega à sua casa com uma notificação de infração de trânsito que ele desconhece e que bem sabe que não tem escapatória. A notificação ainda traz inscrito com ar de escárnio que “o notificado” (melhor seria dizer “o extorquido”, “o explorado”) tem um prazo para ajuizar defesa perante a junta não sei lá das quantas. E aconselha ainda juntar os documentos que considerar importantes para referendar a defesa contra a penalidade imposta. Balela. No ano passado, eu recebi seis multas de um mesmo radar em Cariacica, próximo à escola São João Batista. Fiz uma reclamação no DETRAN-ES, denunciei o caso ao jornal “A Tribuna”, presumindo que o radar estivesse com defeito, contudo até hoje não recebi resposta. Creio que as seis multas virão na próxima cobrança de IPVA que está para chegar. O que mais me irrita é que não há forma de provar que sou inocente e que o radar estava com defeito já que o DETRAN-ES não se importa estou sendo lesado, enganado, roubado, o que importa é o cumprimento da lei infalível. Só não é inafiançável como a lei contra o Racismo porque é isso que interessa ao Estado. Aquela senhora negra que supostamente chamou o motorista do ônibus em Vitória de “Preto” tem mais defesa e argumentação que qualquer acusado injustamente por uma infração de trânsito. E olha que ela infringiu uma lei inafiançável. O interessante é quando a própria polícia se torna vítima da sua arbitrariedade (se bem que a probabilidade aqui é raríssima). O jornal já notificou casos em que os mantenedores da ordem saíram aos borbotões com os justiceiros de caneta na mão. Vale a máxima: quem com ferro fere...Só não entendo como que, num Estado de Direito, quem é acusado de homicídio, de latrocínio, de corrupção fiscal, tenha mais direito de resposta que um motorista notificado, levianamente ou não, de desrespeitar nossas rígidas regras de mobilidade automotiva. Como diria o Renato Russo, vamos celebrar a estupidez humana.


(Homero Linhares / 02 de abril de 2009)

ROMANTISMO BRASILEIRO

A Literatura Romântica
O Romantismo Brasileiro é um período que se inicia com a publicação do livro "Suspiros poéticos e saudades", de Gonçalves de Magalhães, em 1836 e termina no ano de 1881. Iniciou-se na Alemanha, percorreu a Europa e chegou ao Brasil trazendo à arte uma nova forma de ver o mundo, a vida, o sentimento humano. Interessante é que o livro que deu origem ao Romantismo no Brasil foi lançado, na verdade, em Paris.Não entenda o romântico como “o cara que é apaixonado, gosta de música brega e manda flores para a namorada”. Pode ser isso também, mas é muito mais. Na Literatura, ser romântico significa ser apaixonado por algo (não só pela mulher) como a pátria, as nossas origens, a nossa paisagem, etc.Há algumas características marcantes que determinam o Romantismo:· Subjetivismo - A visão pessoal, particular da sociedade, de seus costumes e da vida como um todo.· Sentimentalismo - A Literatura é uma forma de explorar sentimentos comuns: o amor, a cólera, a paixão etc. O sentimentalismo geralmente implica na exploração da temática amorosa e nos dramas de amor.· Indianismo – A figura do índio é traçada como exemplo de beleza, coragem, heroísmo. O índio representa o passado do povo brasileiro e o nosso herói medieval.· Nacionalismo, ufanismo - A necessidade de se criar uma cultura genuinamente brasileira. Como uma forma de publicidade do Brasil, os autores brasileiros procuravam expressar uma opinião, um gosto, uma cultura e um jeito autênticos, livres de traços europeus.· O culto à natureza - O culto ao natural, aos elementos da natureza, tão valorizados pelos índios. Passava-se a observar o ambiente natural como algo divino e puro.· A idealização da Mulher (figura feminina) – a mulher é vista como um ser perfeito, sem máculas e digna de admiração e adoração.· A idealização da realidade - A análise dos fatos, das aparências, dos costumes etc era muito superficial e pessoal, por isso era idealizada, imaginada, assim o sonho e o desejo invadiam o mundo real criando uma descrição romântica e mascarada dos fatos.· Evasão (fuga) no tempo, no sonho, na imaginação, na loucura, no espaço e na morte.· Mal do Século - Essa geração, também conhecida como Byroniana e Ultra-Romantismo, recebeu a denominação de mal do século pela sua característica de abordar temas obscuros como a morte, amores impossíveis e a escuridão.· Religiosidade - A fé cristã é utilizada como um meio de mostrar recato e austeridade, mas são frequentes também a presença de uma espiritualidade negativa no ambiente natural.· Maior liberdade formal - As produções literárias estavam livres para assumir a forma que quisessem, ou seja, era mais importante expressar seus sentimentos que o conhecimento de rima, métrica e poesia clássica.

(David Bellmond)

TRIBUTO A RENATO RUSSO




ERA UMA PRAÇA


Era uma praça
Em Porto de Santana
Sem atrativos
Sem gente insana.


Mas era lá
Que minha solidão
Virava versos
De uma canção.


Era uma praça
Muito sem graça
Não tinha banco
Funk ou fumaça.


Mas era lá
Que com meu violão
Eu fazia cover
Da Legião.


Era uma praça
Abandonada
E eu não tinha
Nem namorada.


Mas era lá
Que eu me reunia
Com meus amigos
Todos os dias.


(David Bellmond / 28.03.09)

Poeta, mestre em literatura, professor de literatura, língua portuguesa e italiano.

sexta-feira, 27 de março de 2009

TRIBUTO A RENATO RUSSO


OS BONS MORREM ANTES (27/03/60 – 11/10/96)


Dia 27 de março é dia de recordarmos do bardo romântico-realista-simbolista-moderno Renato Manfredini Júnior. Não sabe quem é? Certamente você já deve ter ouvido a voz vociferante ou melodramática em alguma canção de sucesso dos anos 80 para cá. Ou então já deve ter ouvido alguma composição cantada por outra voz da MPB. Esse é o nome de nascimento de Renato Russo, um dos maiores ícones da música punk-pop-rock-brega tupiniquim.

Ele foi o responsável por eu aprender a ouvir música italiana, Erasmo Carlos, Rappa, Raimundos, Adriana Calcanhoto, Cássia Eller, Chico, Caetano e outros tantos grandes intérpretes e compositores nacionais. Foi ouvindo as suas canções que eu descobri a existência de poetas e pensadores como Rimbaud, Jung, Engels, Marx, Intrigas intelectuais rodando em mesa de bar.

Em 1985, quando Renato Russo surgiu nas FM’s cantando “Será” com sua voz parecida com a de Jerri Adriani, eu tinha 17 anos. Era época da primeira versão do Rock in Rio e o nosso poeta legionário não estava lá entre os grandes nomes da MPBRock. Contudo não demorou para que a febre da “Geração Coca-Cola” invadisse as antenas de TV, as ruas, os bares, as escolas, os hospitais. Em quase todos os lugares, se cantava Legião Urbana.

Eu pensei que a música da Legião seria uma peculiaridade da minha geração. Enganei-me. Nas décadas vindouras, a arte de Manfredini Júnior continuou a conquistar legiões, ou melhor, multidões de fãs. Não há uma música daquelas épocas remotas que não tenha marcado alguma momento na minha, nas nossas vidas. “Baader Meinhof Blues” embalou algumas brigas nossas na pracinha (A violência é tão fascinante). Mas brigar pra quê? “Soldados” naquele tock em que ninguém pegava ninguém (Nossas meninas estão longe daqui). “Eduardo e Mônica” nas baladas e porres de fim de semana (Não agüento mais birita). “Os barcos”nas desilusões amorosas (Você diz que tudo terminou, você não quer mais o meu querer). “Vento no litoral” quando a saudade apertou (e o vento vai levando tudo embora). “Pais e filhos” quando nossas vidas começaram a ficar mais sérias (Meu filho vai ter nome de santo). “Esperando por mim” para recordar os velhos amigos (Meus verdadeiros amigos sempre esperaram por mim).

Porém a mais triste de todas foi cantar “Love in the afternoon” às 10 horas da manhã do dia 11 de outubro de 1996. Foi com essa canção que eu aceitei que não haveria mais aquelas noites de euforia no Álvares Cabral e nem o retorno de madrugada a pé pela beira-mar junto com a turma cantando as mesmas canções. Renato Russo partiu.

Luz e sentindo e palavra.

E silêncio.



(David Bellmond / 25 de março de 2009)

terça-feira, 24 de março de 2009

SERVIÇO DE PRETO?

SERVIÇO DE PRETO

A mulher entra no ônibus em Vitória, capital do Espírito Santo. O coletivo está lotado. A viagem é desconfortante, desagradável, a passagem é cara. Uma senhora inconformada com prestação de serviço tão desqualificada, olha pro motorista, um senhor negro, e diz: “Só podia ser serviço de preto”.
Não deu outra. O motorista do ônibus chamou a polícia e a mulher foi autuada em flagrante por prática de racismo. O que mais impressionou a sociedade em geral foi o fato de a mulher racista ser negra, empregada doméstica e com renda mensal de R$ 300,00. Diante da complicação da situação, a senhora argumenta que não poderia ter dito isso porque ela também é preta. A delegada que autuou a agressora disse que o crime de racismo se configura independente da raça de quem o pratica. Concordo em gênero, número e grau com a delegada. Afinal a minha situação social não me dá o direito de zombar daqueles que não se deram bem na vida financeiramente. Minha fé, independente da forma como eu creio em Deus, me permite olhar com desdém para alguém de crença igual ou diferente da minha. Minha sexualidade, hetero ou homossexual, não é passaporte para que eu faça chacotas com quem não é como eu.
Não importa de onde ou de quem venha o escárnio. Se casos como esse acontecem com mais freqüência no nosso cotidiano, as pessoas intolerantes e ignorantes não teriam tanta coragem de se manifestar. Não que eu deseje que o jornal informe diariamente casos de práticas de racismo, mas, se a lei fosse colocada em funcionamento, haveria um temor maior da parte dessas pessoas que ignoram que nosso povo brasileiro é uma mistura de raças, de religião, de cultura. O triste é que a promotora responsável pelo caso ordenou a libertação da senhora negra que agrediu o motorista negro por interpretar que só há crime de racismo quando o agressor se considera superior ao agredido por ser de uma raça considerada superior.
Se isso virar jurisprudência, as leis que versam sobre ofensa, injúria, calúnia, difamação e congêneres podem ser rasgadas porque não valerão mais nada. Se bem que no fundo do meu âmago, eu creio que as leis não valem nada mesmo. As leis foram criadas para beneficiar os amigos dos legisladores e incriminar os seus inimigos. No caso em questão, nem amigo dos legisladores a agressora é já que faz parte da mesma raça sofrida do agressor, assim como esse que vos escreve. Tenho dito que a atitude racista é digna de pena, antes de me irritar, uma vez que a minha atitude preconceituosa denuncia a minha falta de conhecimento de História (ignorância mesmo). Não me ensinaram nem em casa nem na escola que os negros trabalharam de graça por quase 400 anos na construção desse país. Nem me disseram que a Princesa Izabel assinou a Lei Áurea concordando com o fim da escravidão. Eu sou tão estúpido que desconheço o fato de as pessoas da minha raça estarem estudando e trabalhando para provar que negro também pode vencer na vida.
Por outro lado, minha religião também nunca me ensinou que a discriminação é inaceitável por meu Deus. Afinal as religiões só pregam guerras, intolerância e ódio por que eu seria diferente? O que me faz ser mais preconceituoso ainda é a minha ignorância em relação às leis. Existe alguma lei que promova a inibição à pratica de ofensa? Por isso é que sou racista, sexista e de direita. Agora, cá entre nós, dona negra, Serviço de preto? De onde a senhora retirou esse chavão? Do seu serviço mal executado? A culpa do transporte caro não é do motorista negro. A culpa da polícia intransigente e agressiva não é do soldado negro. A culpa da educação de má qualidade não é do professor negro. A culpa das leis mal interpretadas e protecionistas não é do advogado ou do promotor negro. A culpa é de todos nós: negros, brancos, índios, mamelucos, mulatos, pardos, marrons bombons, magentos, cor de burro quando foge, morenos, jambos e queimadinhos de praia. A culpa é de todos nós brasileiros, que não fazemos valer o que está escrito no papel e é nosso por direito. Da próxima vez, xingue a mãe do motorista que a senhora errará menos. O máximo que poderá acontecer é a senhora tomar umas bordoadas nas ventas. Mãe o motorista só tem uma. Mas, quando a senhora ofendeu a raça dele, a senhora ofendeu uma raça inteira, a começar pelos seus ancestrais que vieram lá da África e sofreram para sobreviver nesse país de mestiços.


(Homero Linhares / 23 de março de 2009)