quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A MUSA, OURO PRETO E POESIA



OURO PRETO
(para Raoni)

Ouro Preto que canta e ri demais,
entre cochichos, becos e varais.
Quem te quis te fez; outrora se faz,
agora, aquela história lá de trás.
________//______________
Cláudio dizendo: pedras, penhas há.
Marília lendo o seu muso Tomás.
Turistas, como eu, querem jantar
o mito Tiradentes apesar.
_______//_______________
(Entrementes, mais um soneto
quase fantasia-se em leitor da cidade.)
Assim, vida que segue, a gente vai,
______//________________
personagens autores de um haicai,
inventando Ouro Preto, que ri,
mas atina não à tinta pro real.

(Bith)
P.S.: Bith é o pseudônimo de Wilberth Clayton Salgueiro, meu professor na graduação em Letras e no Mestrado em Estudos Literários. A modelo da foto é a minha musa Andressa fotografada por mim em Ouro Preto.

POESIA QUE NADA TEM A VER COM O BBB (2)


(Asado em Mendiolaza, Marcos Lópes///http://www.marcoslopez.com/.)


A FOME

O rato tem fome
De queijo e o gato
Tem fome de rato.
O boi tem fome
De pasto e o homem
Tem fome de boi.
O homem tem fome
De boi e o diabo
Tem fome de homem.

(BELLMOND, David. Vida Vide Verso. Vitória: Editora do autor, 1999.)

POESIA ERÓTICA

PSEUDO-EROS

Amar o meu corpo
Antes de amar o seu
E dar de mim a mim
Antes de me entregar.

Descobrir meus limites,
Querer me aprisionar
Na minha própria posse,
Antevendo a paixão.

Sentir a rigidez
Da minha tênue mão
Na maciez do corpo
Do meu fantasma amante.

E assim me dando muito
Ao meu erótico anseio,
Descubra após o coito
Que não me dei bastante.

(Extraído do livro "Vida Vide Verso", de David Bellmond)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O IGNORANTE CONVICTO

BBB: "Graças a Deus nunca fui de ler livro", diz Fernando

O carioca Fernando disse na casa do BBB que não gosta de ler. "Graças a Deus, nunca fui de ler livro", se vangloria o brother.
Ele contou que só leu um livro inteiro depois que foi para o confinamento do BBB, no hotel. "Na época da escola, quando tinha que fazer prova de algum livro, eu lia dez páginas do começo, dez do meio e dez no final", afirmou.
"E sempre tirava nota baixa", repreendeu a líder Thalita. "Você está dando um mau exemplo no Big Brother", continuou a carioca.
"Sempre tirei nota boa, eu sempre fui muito bom em 'encher lingüiça'", afirmou Fernando, que agora está lendo o livro levado por Thalita para a casa: Falcão - Meninos do Tráfico.

(exclusivo.terra.com.br/bbb8/interna/0,,OI2283157-EI10946,00.html)


O Ignorante convicto


O pior ignorante é o ignorante convicto. Ele não lê, não escreve, nem evolui intelectualmente. Ele não sabe que o alto custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem da sua ignorância.
O ignorante convicto é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia o conhecimento. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância convicta, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

(Bertolt Brecht / plagiado por David Bellmond)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

CAPA DO LIVRO "VIDA VIDE VERSO", DE 1999


Para quem ainda não conhece, eis a capa do livro "Vida vide verso". Lançado em 1999 pela Editora do Autor - UFES, o livro traz uma coletânea de poesias da minha safra mais antiga. Alguns dos poemas do livro têm sido prestigiados aqui neste página. Meus endereços para conferir Literatura sâo: (bellmond.blog.terra.com.br) e (davidbellmond.blogspot.com).

David Bellmond

POESIA QUE NADA TEM A VER COM O BBB (1)

OS FEIOS

Eram o feio e a feia
Na entrada de um shopping Center
Com seus belíssimos
Cartões de crédito
E seus charmosíssimos
Talões de cheque
E seus caríssimos mantos reais,
Arrancando saudações sorridentes
Dos vendedores e gerentes,
Roubando olhares amistosos
Dos banqueiros gananciosos.

Plástica pra quê
Se dinheiro traz beleza e poder
Quando o feio ama a feia
E a feia ama o feio?

No entanto o feio sai cedo de casa
Em trajes domésticos e comuns
Para comprar o jornal da manhã
Sem cartões de crédito
Sem cheques coloridos
E a polícia o prende
Confundindo-o com algum bandido.

A feia apavorada
Não chama o advogado
E, ao tentar inocentar o feio,
É presa por atentado ao pudor.

(David Bellmond)

B B B (Novas traduções possíveis para a sigla)


Quem perde seu precioso tempo com esse programa do mais alto nível percebe que novas sugestões de traduções para a sigla BBB aparecem a cada olhada:

BIG BÊBADOS BRASIL - Essa turma não faz mais que consumir álcool o dia inteiro e dar vexames depois de bêbados. Tudo a ver com jovens brasileiros que dão duro por suas conquistas e vivem em botequins como nós. Poderia ser também Big Boteco Brasil.

BIG BRANCOS BRASIL - Vai dizer que você nunca percebeu que, a cada edição, o BBB põe um negro como participante apenas para não ser acusado de ariano? Seguindo a tradição "global", antes da morte de Roberto Marinho, negro só aparecia na Globo para fazer papel de empregado ou escravo em novela de época. Depois da morte dele, mudou um pouco, mas muitíssimo pouco. Não me espanta que a Glória Maria tenha se afastado do Fantástico por dois anos (será?) apesar do seu carisma. Spike Lee, em visita ao Brasil certa vez, disse que se espantava como que as capas de revistas e as propagandas escondia a verdadeira cara do povo brasileiro, pois não exibia negros. A Globo é padrão. O BBB é mais que padrão. Para quê exibir negros num programa que leva o nome do Brasil se os negros estão todos lá do outro lado do oceano num lugar chamado África? Senti saudades de Castro Alves.

BIG BUNDAS BRASIL - O programa nada mais é que uma exibição de bundas brancas que futuramente aparecerão na Playboy, na Sexy e outras revistas de nu artístico. Aliás, disso a Globo entende muito bem: as futuras beldades que embalarão os sonhos e delírios (mais delírios que sonhos) dos nossos adolescentes aparecem na telinha.

BIG BURROS BRASIL - Essa descoberta não é de agora. O único caso de alfabetização mal realizada no BBB não foi a famosa Solange que trouxe de volta às paradas de sucesso a música "We Are the world (I ar nu or, na tradução da ex- BBB). Infelizmente, quando escolhem um negro que disfarce o arianismo da Globo, o fazem de maneira que o negro seja visto ainda de forma pejorativa. A cada edição do BBB, aparece uma ou mais figura que faça questão de dar "porrada" na nossa tão já surrada Língua Portuguesa.

BIG BONS BRASIL - Se você não leu Freud, Nietzsche, Rubem Alves, Rubem Fonseca, Rubem Braga. Carlos Drummond de Andrade, Carllo Carlos, ou outro grande escritor de qualquer época, basta ouvir os diálogos da casa. São grandes as exposições de filosofia, teoria, poesia da melhor qualidade na voz dos participantes.

E você? Como traduziria a sigla BBB? Deixe o seu comentário.

David Bellmond

AVISO AO VISITANTE DESSA PÁGINA:

O conteúdo dessa página também está acessível em outro endereço (bellmond.blog.terra.com.br) e, se possível, gostaria de receber a sua visita lá. Deixe, como marca da sua visita, um comentário ainda que mínimo. Ficarei grato. Um abraço!

David Bellmond

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O poeta é um fingidor


AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

(Fernando Pessoa in Cancioneiro)

Gregório de Matos Guerra (O "Boca do Inferno")


QUEM FOI GREGÓRIO DE MATOS?

Gregório de Matos Guerra tinha a pele parda, pois era descendente de negro. Tinha um bigode igual àqueles de português das piadas contadas no Brasil. Gregório tinha um nariz obtuso, comprido mesmo, era alto, forte e de olhos castanhos. O moço ganhou o apelido de "Boca do inferno" porque era muito crítico, severo e sarcástico nas suas poesias. Dizem que ele era tão irreverente que foi expulso da igreja católica. Igual a ele só o Bocage, poeta português que não media as palavras para falar da alta sociedade. Amado ou odiado, Gregório entrou para a história como o primeiro poeta brasileiro...e baiano.


SONETO

A cada canto um grande conselheiro
Que nos quer governar cabana e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um freqüentado olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha,
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha
Para a levar à Praça, e ao Terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.

Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
e eis aqui a cidade da Bahia.

(Gregório de Matos Guerra)

DEDICADO AOS JOVENS DAS CLASSES MÉDIA E ALTA DE VITÓRIA - ES

POEMA CONCRETO DOS MENINOS NO SHOPPING

Fantasia
Fanta
Azia
Coca Cola
Coca barata
Cola em lata
Games, bate bola
Música eletrônica
Era nipônica
Falas neo-americanas
Grifes bacanas
Saques on line
Poses
Designes
Pais comportados
Filhos imagens
Consumindo discos
Burguers. Bobagens
Até que o teto
Do shopping caia
Sobre sua filosofia
Niilista
E o futuro
Se perca de vista.

(Extraído do livro "Vida Vide verso", de David Bellmond)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

QUARTO DE TREVAS

QUARTO DE TREVAS

Um olhar enevoado
No rosto sério e calado
De um anjo torto e sem asas
Ilumina a escuridão
Do quarto e da imensidão
De um poeta estarrecido.

E o poeta vela a sombra
Envolta no rosto dela
Sem saber quais os sintomas
Que o obrigam a olhar pra ela.

O quarto preso no abismo
Mas lá fora o crepúsculo é pior.
Tem sol, mas não tem o resquício
De luz que há no olhar dela.

A face não envelhece,
Há uma infância ainda em seu rosto
Mas tantos anos já se passaram
Na insônia nupcial.

No entanto o poeta se veste
E penetra mais nas trevas
Da rua que não é de trevas.

(Extraído do livro "Vida vide verso", de David Bellmond)


P.S.: Quando eu lecionava no Colégio Americano Batista de Vitória, em 2001, as professoras Alice e Tânia adotaram meu livro para a 7ª série e fui supreendido com várias interpretações inusitadas do poema "Quarto de trevas". Futuramente um poeta capixaba lançará um livro patrocinado pela Lei Rubem Braga, da Prefeitura de Vitória - ES, em que o autor estreante afirma que David Bellmond foi a causa da mudança da sua verve poética. Inclusive é o seu ícone poeta que assina o prefácio do livro.
Bellmond lido por um europeu:

Hoje descobri uma página de fotografias em que um fotógrafo europeu (António Azevedo) utiliza os versos iniciais de meu poema "Menino sentado no cais" em referência a uma fotografia, por sinal cheia de poesia. Ficou impressionado como o fotógrafo conseguiu registrar em imagem o que eu havia descrito em versos. Vale a pena conferir: Fotografia de António Azevedo - Olhares.com (Um menino sentado no cais. O mar é eterno, O menino é mais. David Bellmond). Indaguei ao artista como ele conseguiu ter acesso aos meus poemas, pois para mim é um orgulho muito grande ver minha poesia ser citada por alguém que não me conhece e está tão longe de mim. Espero que outras pessoas, com o tempo, possam descobrir também essa poesia de David Bellmond que está guardada no casulo há 9 anos uma vez que meu livro foi lançado em 1999).

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

POETA DE MEIA IDADE?

(Eu e Drummond, fotografados por minha amada, proseávamos sobre poesia em certa praia do Rio de Janeiro)


DAVID, O Poeta da meia idade


Veja quantas músicas já cantadas
Quanto rumor dita do meu coração
Quantos amores perdidos com sua solidão
Veja, suas estrofes bem desarrumadas.



Olhe quantos versos distorcidos
Sua vida, sua dívida já está paga
Veja, sua mente está mais agitada.
O seu olhar está piscando aflito.



O que dizer dos seus trintas?
Ou do seu desespero adquirido
Talvez da metade de sua vida.


David da vida vaga, vaga deprimido.

Porque competir com a vida

Só deixou seu coração perdido em rimas.

(Saulo Rodrigues)


P.S.: Saulo foi meu aluno por 4 anos na escola Ana Lopes Balestrero, em Flexal - Cariacica. Descobri essa poesia por acaso no site poetascapixabas.nom.br.
Grande satisfação compartilhar este espaço com aqueles que aprenderam bem mais que a lição costumeira de Gramática, Literatura, Redação e Italiano.

Menino sentado no cais


MENINO SENTADO NO CAIS

Um menino sentado no cais.
O mar é eterno,
O menino é mais.

Menino sentado pensativo.
O mar é morto,
O menino é vivo.

O menino entristecido
Sem reclamar.
O mar engole o menino,
O menino engole o mar.

O mar num silêncio perdido.
O mar é azul,
O menino é colorido.

Um menino entretido.
O mar é líquido,
O menino é concreto,
Gasoso, abstrato

E salta sobre o mar,
Vai até outros continentes.
O mar é frio,
O menino é quente.

O menino olhando o mar
Vai navegar,
Vai se afogar.

A força do mar é medonha.
O mar agita as ondas,
O menino sonha.

(David Bellmond in Vida Vide Verso)
P.S.: A foto que acompanha a poesia é da autoria de António Azevedo e está acessivel numa página européia de fotografia (olhares.aeiou.pt/foto616955.html).

Bom dia, Velhos poetas

"Bom dia, poetas velhos
me deixem na boca
o gosto de versos
mais fortes que não farei.

Dia vai vir que os saiba
tão bem que vos cite
como quem tê-los
um tanto feito também
acredite."

(Paulo Leminski)