sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Poesia engajada (1)


UM MUNDO PERFEITO

Nas estradas de pó e de luz
Por onde seguem os nossos irmãos
Negros, todos negros perdidos,
De todos os cantos do Sudão,
Há uma trilha que vai dar no Nirvana,
Outra que vai para Jerusalém.

Na multidão escrava da fome,
Que encanto exerce o alfabeto?
Que matemática dominará
Àqueles negros desnudos, sem teto?
Só uma ciência lhes povoa a cabeça,
A de sonhar com um mundo perfeito.


TEMPO DE LUTA

Meu tempo de luta
É tempo de agora.
Lutar contra tudo,
Lutar contra todos,
Lutar contra o mundo.

Minha luta ferrenha
É contra o parágrafo
E o artigo tal,
Contra as potestades.

Sou fraco, não luto
Porque amo a guerra,
Sou absoluto
Caule de ojeriza.

Sou forte a meu modo
No meu tempo escasso.
Eterno enquanto vivo,
Vivo enquanto luto.

Minha luta insigne
Contra as potestades
É com escudo de vento
E obus de vontades.
Meu esforço só cessa
Se derrotada a injustiça.
Quanto mais envelheço,
Mais me armo pra guerra.

Morrerei em batalha,
Morto por meus devaneios,
Ostentando a bandeira
De tudo aquilo que creio.

(BELLMOND, David. Vida Vide Verso. Vitória: Editora do autor, 1999.)

Poesia engajada (2)


CENHO

(À minha mãe)

Minha luta é cabal
Luto contra tudo
Luto contra o mundo
Por gostar do ideal.

Meu improviso é insensato
Como mostra o meu cenho
E as rajadas de veneno
Provenientes do cansaço.

Seu eu estiver a sair
Diga-me que é tarde
Na real ou por vontade
E ponha-me para dormir.

Quando eu estiver a sonhar
Cante-me uma música
Conte-me suas dúvidas
Pois deitei para não acordar.



(ANDRADE, Renan de. Cenho. Vitória: Editora do autor, 2008.)

Poesia engajada (3)




Poema do jornal

O fato ainda não acabou de acontecer
e já a mão nervosa do repórter
o transforma em notícia.
O marido está matando a mulher.
A mulher ensangüentada grita.
Ladrões arrombam o cofre.
A polícia dissolve o meeting.
A pena escreve.

Vem da sala de linotipos a doce música mecânica.

(Carlos Drummond de Andrade)


P.S.: Segue abaixo o mesmo poema traduzido para o latim:

Folii diarii carmen


Casus nondum plene evenit
manus atque iam nervosa diurnarii
vertit in notitiam.
Morti coníux dat uxorem.
Sparsa sanguine clamat uxor.
Fures fores arcae effringunt.
Coetum milites dissolvunt.
Tradit folio calamus.


Camera ex machinarum dulce melos provenit
mechanicum.

(Tradução: Silva Bélkior)

Poesia engajada (4)



Mulher proletária

Mulher proletária — única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.

Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.

(Jorge de Lima)

Poesia engajada (5)


A tentação

Diante do crucifixo
Eu paro pálido tremendo
“Já que és o verdadeiro filho de Deus
Desprega a humanidade desta cruz”.

(Murilo Mendes)

Poesia engajada (6)


Perfeição




1

Vamos celebrar a estupidez humana,
A estupidez de todas as nações,
O meu país com sua corja de assassinos,
Covardes, estupradores e ladrões.
Vamos celebrar a estupidez do povo,
Nossa política e televisão.
Vamos celebrar nosso governo
E nosso Estado que não é nação.
Celebrar a juventude sem escola,
As crianças mortas,
Celebrar nossa desunião.
Vamos celebrar Eros e Thanatos,
Persephone e Hades.
Vamos celebrar nossa tristeza,
Vamos celebrar nossa vaidade.



2

Vamos comemorar como idiotas,
A cada fevereiro e feriado,
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais.
Vamos celebrar nossa justiça,
A ganância e a difamação.
Vamos celebrar os preconceitos,
O voto dos analfabetos.
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras e sequestros.
Nosso castelo de cartas marcadas,
O trabalho escravo,
Nosso pequeno universo.
Toda hipocrisia e toda a afetação,
Todo roubo e toda indiferença.
Vamos celebrar epidemias:
É a festa da torcida campeã.





3

Vamos celebrar a fome.
Não ter a quem ouvir,
Não se ter a quem amar.
Vamos alimentar o que é maldade,
Vamos machucar um coração.

Vamos celebrar nossa bandeira,
Nosso passado de absurdos gloriosos.
Tudo o que é gratuito e feio,
Tudo que é normal.
Vamos cantar juntos o Hino Nacional
( A lágrima é verdadeira ).
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão.




4

Vamos festejar a inveja,
A intolerância e a incompreensão.
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada.
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso,
Nosso descaso por educação.

Vamos celebrar o horror
De tudo isso - com festa, velório e caixão.
Está tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou esta canção.



5

Venha, meu coração está com pressa.
Quando a esperança está dispersa,
Só a verdade me liberta.
Chega de maldade e ilusão.

Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera,
Nosso futuro recomeça.
Venha, que o que tem é perfeição.

(Renato Russo)

CONTRA A PEDOFILIA: A FAVOR DA EDUCAÇÃO


Contra a pedofilia: A FAVOR DA EDUCAÇÃO




Identidade do usuário segundo o regulamento do Orkut:
Como o orkut.com tem como objetivo promover interações abertas entre pessoas reais, exigimos que os usuários atendam os padrões básicos de identidade. Os perfis devem ser criados somente pela pessoa retratada, e todos os usuários devem ter pelo menos 18 anos.




Qualquer pessoa que mantenha contato imoral com adolescente poderá ser acusado do crime de pedofilia.
A denúncia pode ser feita em http://www.prdf.mpf.gov.br/denuncia/
Porém, se você é um adulto utilizando uma foto de adolescente com o objetivo de lucrar vantagem, o crime cometido é duplamente qualificado, incorrendo também no crime de falsidade ideológica.




Quem mantém contato com adolescente, sabendo que é adolescente, e divulga conteúdo imoral está cometendo crime de pedofilia (A Lei n.º 10.764 do dia 12 de novembro de 2003, alterou a redação do artigo 241 do ECA, explicitando o crime da pedofilia praticado através da Internet.).
Confira no site a seguir http://www.prdf.mpf.gov.br/pedofilia




Calma que me explico:

Há na internet, adolescentes se passando por pessoas maiores de idade (inclusive alguns alunos meus) e mantendo contatos ilícitos com adultos pedófilos. A educação tem sido a minha bandeira de luta e tenho me confrontado com muitos alunos que não querem estudar (e isso faz com que às vezes eu seja rigoroso demais com os adolescentes inconseqüentes em sala de aula – já outras vezes sou brincalhão, contador de “estórias”, tocador de violão e aberto ao diálogo com aqueles que estão sob minha tutela intelectual). Na semana que se iniciou, alunas que não concordaram com atitudes rígidas minhas convenceram suas mães de que eu mantinha contato imoral com elas fora da sala de aula. Daí o professor amigo, legal, permissivo e confidente, se tornou um monstro na visão das mães que não conhecem suas próprias filhas. Deprimente foi ver alguns companheiros da comunidade escolar (pedagoga, coordenador e diretora) querer ouvir a minha versão a fim de que eu me defendesse em sala fechada.

Só a alusão a esse absurdo já foi pra mim um motivo de ofensa. Minha destruição total seria se elas (todas as almas femininas aqui citadas) conseguissem o ônus da prova contra mim. Acho que preciso repensar minha profissão e minha forma altruísta com meus alunos. Ou quem sabe até sair de cena, pois não suporto sala de aula que não tenha os objetivos de se aprender, de se crescer moral, intelectual e financeira na vida.

“A maldade humana agora não tem nome.”
(Renato Russo)


(BELLMOND, David. Elogio à perversidade. Vitória, Editora do autor, 2009.)

domingo, 17 de agosto de 2008

NOMES (O1)




ALGEMADO

Eu não queria me precipitar
Em te dizer o que és para mim
Pra que não venhas a me rejeitar
E esse “Eu e você” tenha um fim.

Fui algemado pelo teu amor.
Queria dele só me libertar.
Sendo calado, sofro tanta dor
E, se eu falo, vou te machucar.

Tua ausência é minha algema
Que me arrasta à tua corrrente.
Quando em febre eu te chamo,
Pois não te vendo fico até doente.

Sei que qualquer coisa sentes por mim,
Mas não sei se é o mesmo que sinto,
Pois me algemastes neste labirinto
Em que tanto ando e não vejo o fim.

Se não me amas, peço-te um favor
Que talvez possas não o recusar:
Venha depressa me desalgemar,
Leve-me ao sul ou aonde quer que for.

(GIACOMO, Juan. As minhas faces secretas. Vitória, Editora do autor: 2007.)

NOMES (02)


UM VERSEJO DE AMOR


Faculdades perdem completamente o juízo
Romanceiros abdicam do lirismo poético,
Ante um olhar que só permeia o belo!
Nunca tanta poesia inspirou um poeta,
Como suas poucas estadas com ela, só três desejos:
Yesterday, hoje, amanhã.
São sorrisos bobos que lhe cortam a face,
Neblina que ganha luz poli crômica
Através de um simples saudar feminino,
Nunca dante visto,
Depois indaga-se ao coração:
Aonde, anda, a Nanda?

Macilento o poeta verseja,
Artifícios se encontram na musa,
Rosa, crisântemo, jasmim, minha Lua
Tudo isso o meu amor permeia!
Improvável paixão fulminante
Nativa de fraterna amizade
Sei, não sei se dura, quantos serão os instantes?

Remido de todos os males da dor
Imódica paixão infinita
Bardo, vate, outras formas adjetivas
Encontram em ti meu amor.
Infinitos juramentos insanos
Rapidamente me vêm à boca
Objetivamente, só um: Te amo!

(ANDRADE, Renan de. Cenho. Vitória, Editora do autor, 2008.)


P.S. 1 "Um versejo de amor" é dedicado à musa do poeta Renan de Andrade na última página do seu livro "Cenho". Para ler outros poemas do autor, adquira o livro na Livraria Cultura do Shpping Vitória.


P.S. 2 O poeta Renan de Andrade foi meu aluno no Ensino Médio. Hoje é estudante de Letras na UFES. Lançou, em junho de 2008, o livro "Cenho", patrocinado pela Lei Rubem Braga da Prefeitura de Vitória. Nota-se, na obra de Renan, uma forte influência do meu traço de escrita, que podemos denomnar agora de traço bellmondiano. Muito me alegra o fato de saber que meu sonho está se espalhando pelo caminho po onde passo.

NOMES (03)


Rainha Ghótica

(À mais linda ghótica que conheço)

És uma esfinge do Egito
Meu coração quer lhe decifrar.
És um enigma infinito.
Leio seus olhos – negro luar.
Lábios rosas, cílios sombrios

Yesterday, tomorrow, estio!

Entre sombras e catedrais,
Meia-noite você desperta.
Esses seus olhos são cristais,
Linda vampy, meu sangue lhe espera.
Leve-me pelos temporais.
Yin e yang, outono e primavera.


Raios de luz na brisa fria,
Entre as sombras da madrugada.
Bela Emelly, musa encantada,
Onde guardas minha poesia,
Rainha ghótica, rainha minha,
No seu peito ou na boca pintada?


(GIACOMO, Juan. As minhas faces secretas. Vitória, Editora do autor: 2007.)

P.S.: Novo poema de Juan Giacomo. Nada mais que um exercício de endeusamento à sua musa ghótica que achei proveitoso publicar uma vez que o estilo de poesia praticado por Giacomo é o de louvor à beleza feminina. Nota-se, no entanto, que o trovador exercita aqui a sua dedicatória em forma de acróstico (poema em que os versos completam um nome surge na vertical), que não faz bem meu gênero de escrita. Todavia, valeu a intenção do poeta.